“A vida é cíclica”
pensa o velho guerreiro. “A vida é cíclica pra quem vive, e pra quem já
morreu?” pergunta o velho a seus ternos. Célio arrasta-se sem muita
dificuldade, dá as costas ao armário, anda até a sala, com dificuldade agarra
um disco de vinil, coloca na vitrola: “Cíclico e infinito, só Ravel” com
esse pensamento Célio coloca para tocar...”
O velho se arrastou durante toda a
primeira temporada. Seus passos, seus passos lentos, seus passos lentos em
direção à vitrola. O soldado se arrastou para lá, e para cá, sem muito rumo,
sem rumo algum; dançou, o velho dançou ao som do Bolero.
Como a lenta introdução dos
instrumentos de sopro o velho caminhou por entre os cômodos, e por entre as
cortinas se escondeu. O velho desceu alcançou a rua, fez suas idas matinais até
a praça do bairro.
Foi visitar inúmeras vezes o seu não
melhor amigo, o rapaz da padaria, o mesmo que insiste em lhe chamar pelo home
errado.
“Célio, o velho, chega à padaria: “Um sanduíche de mortadela”.
“Um sanduíche de mortandela senhor Zélio”"Ahahaha". Célio
Ri com gosto do atendente da padaria, que nunca consegue acerta-lhe o nome, nem
do embutido, nem o seu. “Quantas vezes, jovem, terei de dizer que non é Zélio,
o certo é Célio”. “ja” Célio “ja”.“Um dia acertarei de primeira senhor,
acredite, um
dia acertarei de primeira”
Mas o velho está perdendo, perdeu o sotaque
alemão, finalmente; perdeu o medo da luta, e voltou pra rua para, como
antigamente. E agora o que será do velho?
- Agora me vem tudo, todas as
lembranças, memórias, e tudo mais que poderia não vir nunca, só não consigo
achar o que preciso.
Lembranças parecem tomar conta do dia
a dia do velho!
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