Paolo, o pai que procuro não é você. Tenho o seu carinho e me lembro de
seus conselhos, de suas histórias...
Paolo, o meu amor trazido de fora da carne para dentro do coração.
Quando se casou com minha mãe, abraçou-me como sua...
Lembro-me de seu jeito descompromissado, um tanto alienado, um cuidador
de passarinhos...
MEU PASSARINHEIRO
E lá vem ele, com pássaros
raros, radiante, encostado em um canto, cercado por suas gaiolas belíssimas,
vendendo ilusão. Enquanto espera, pensa... Pensa se sabe pensar...
Não adianta esconder o que
está à vista: o cansaço, o desalento, a acomodação, o desânimo, a tristeza da
alma contida em um corpo trincado, trancado, trocado pelas emoções conturbadas.
Não adianta pensar se não
fizer acontecer. As orações muitas vezes parecem vãs e a vontade de fugir
surge, e a força externa do mundo sobressai ao eu, engolido pelo desejo, pelas
vontades de fazer o que não se pode em função de...
Passa-se o tempo e este
tempo parece curto para a desculpa do não fazer. A fuga se engrandece e fica
nas palavras o que deve ser... E não se faz... E não se modifica em alegria o
que incomoda o espírito tumultuado em fase de busca...
A lamentação passa a ser o
primeiro comportamento da falta do movimento de mudança, e o medo o acompanha.
Por quê? Talvez porque a transformação seja inútil, ou improvável, ou
impossível...
O meio termo não é
suficiente e o fazer se torna utópico diante dos olhos do querer... Cai na
apatia e entrega-se ao seu dia-a-dia sem graça e por obrigação. O corpo
amolecido entorpece e embebeda a vontade de... e no marasmo em que se encontra,
digere o tempo de não viver.
Questionar é um começo,
mas não é a solução. O aprender é uma forma de tentar, mas não é nada se a
prática não acontecer. Imediato seria o momento da mudança para apagar a
angústia que toma conta do peito e cala a voz que grita, interna, e mata aos
poucos a esperança de ter, ainda nessa vida, uma felicidade real e um pouco
mais duradoura.
E o tempo compartilha com
o não-fazer e apaga o desejo de querer transformar, e ser, e viver, e... o que
parece fácil diante de outro olhar...
Não se mede a dor da
inércia... E o choro contido se retrai, as lágrimas engolidas esperam a hora
de, trancado no quarto, se permitir sentir o que é repreendido, inaceitável,
incompreendido...
[...] [?] [...]
E lá vai o passarinheiro,
mais uma vez, quando o choro se esgota, a alma se convence da passividade,
vendendo a liberdade, trancada em gaiolas, perdido pelos cantos dos curiós,
bem-te-vis, sabiás...
Meu Paolo, como estará você? Vou procura-lo. Ligarei mais tarde. A
saudade abrandará e ouvir sua voz será um alívio para as minhas preocupações.
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