6 de maio de 2013

[305] Episódio 3 - Sem mais delonga...





Vivo num quadrado isolado no qual minha única companhia é minha própria sombra, pois nem eu mesmo estou mais comigo. Desconfio que a solidão me persegue. Solidão? Talvez isto aqui seja um pedido de socorro sem resultados, ou um lamento que ainda hoje irá acabar. Assim serenamente eu imagino que a solidão é apenas uma companheira teimosa e obstinada que insiste em caminhar ao meu lado.

Inevitavelmente, eu a solicito.

Ou ela me é imposta.

Cruel ou bondosa.

E quando me invade, não é nada mais nada menos do que o meu próprio eu querendo se conhecer verdadeiramente. Não tem onde se refugiar, essa é que é a verdade. Ela sempre dá um jeitinho de me visitar, e assim tornou-se inquilina da minha alma. Será que aqui, ela consegue viver sem ser esmagada pelas minhas frustrações? No entanto, o seu jeito obscuro pode provocar estranheza no meu ser, será ela expulsa de mim, transportada para outra pessoa? Talvez.

Eu me pregunto se há alguma diferença entre existir e viver. Será que há? Eu não sei dizer – aliás, não sei se vivo, tampouco se existo – que necessidade há de nutrir um cotidiano que em todos os dias parece ser domingo? Domingo que é tédio todo descrito e desenhado, ampliado para toda a minha vida.

Agora, aqui estou eu presa em minha própria culpa e angústia. Sem saber como devo prosseguir com essa vida que eu mesma amaldiçoei; como andar com a cabeça erguida sem lembrar os pecados cometidos contra outros... Andarei com um peso insuportável sobre o meu ser enquanto me lembrar das coisas que cometi ou enquanto eu não conseguir dar um jeito de excluir esses pensamentos da minha memória. Quem me dera se minha mente fosse que nem uma memória de computador que desse para formatar e esquecer todo o meu passado...
E ainda tem o sumiço do Edgar para me importunar mais, por onde será que anda aquela criatura? Até ele cansou das minhas lamúrias. Espero que nada de ruim tenha acontecido com ele, e quando eu terminar de beber essa garrafa de uísque eu saio para procurá-lo nessa grande Cidade movimentada de vidas transeuntes.

Mas devo antes imprimir meu grito e meu desespero que estão presos na minha alma. Que faço, Martin? Onde você está?

Sinto uma enorme perda dentro de mim, uma vontade de me abandonar. Mesmo quando tudo está bem, as lágrimas me afogam os olhos e deixo que eles fiquem inundados. Não sei por qual motivo permito que isso aconteça, mas sinto que as águas que brotam são do meu íntimo mais perturbador e que se eu não as fizer chover para fora de mim, sinto que morrerei embargada com minha própria dor. E de onde vem essa dor? Sinto-me como se não houvesse tempo bom, haverá sempre essa tempestade dentro de mim destruindo tudo que toco e todos que conheço. Através dessa conclusão, tomei uma decisão polêmica para alguns – vou planejar minha morte já que ela não vem. Quero logo de antemão pedir perdão a Deus, pois quando eu tirar minha vida sei que estarei furtando um pouco da vida dele que reside em mim.

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Imagem:
The Scream, de Edvard Munch

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